CARLOS OCEANO
(Rio de Janeiro – Brasil)
Psicólogo e poeta.
OCEANO, Carlos. Do sonho à realidade. Poesias. Rio de Janeiro: RPQ Artes Gráficas, 1981. Orelha do livro por Jair Benjamin. Capa – Renato Campeloo. Ilustração – Miti Enorkibara. 73 p.
Ex. bibl. Antonio, doado gentilmente pelo livreiro Brito.
QUEM EU SOU?
Tu que me compras
E me colocas em tua estante,
Por instantes da vida,
Não deixes de me folhear,
Pois, às vezes, sou...
O sopro da vida,
A verdade não dita,
A paz sonhada,
A lua e o sol;
O menino travesso,
O amante desejado,
O fim e o começo,
A vida e a morte;
A flor desabrochando,
O barulho da madrugada,
O remédio da insônia,
O mar ressacado;
O sonho insonhado,
O neologismo presente,
O gosta da cachaça,
O riacho correndo;
O canto do pássaro,
O amigo confidente;
O namoro na esquina,
A própria solidão;
A canção preferida,
O hino sem fronteira,
A letra do samba-enredo,
A prece à Ave-maria;
O choro da criança;
A carta à amada,
O cheiro da chuva,
A brancura da espuma;
O desejo carnal,
A crise existencial,
O presente de natal,
O grito de carnaval;
O livro dos livros,
A sagrada liturgia,
O alimento do boêmio,
Sou... O LIVRO DE POESIA.
CINCO SENTIDOS
Escuto as vozes da multidão
Cada vez mais forte e longe
E dentre todas a que ouço,
Sinto a tua a beijar meus ouvidos.
Tenho visões, loucas aparições.
Minha vida firma uma penumbra
E na mistura das sombras esguias,
O teu olhar vem agasalhar-me.
Sinto cheiro, forte essência,
Não sei distinguir o odor:
Se é mato abraçando o sereno
Ou as flores nascendo dos teus cabelos.
Ah! Que vontade de me banhar
Neste teu corpo escorregadio,
Suado, molhado e chuvoso,
E deixar os ponteiros do tempo me pegar.
Mordo o mar, mastigo o vento,
Na ânsia louca de encontrar
O gosto que fica na tua boca
Na minha vida sem nenhum paladar.
COBRANÇA
A cobrança afetiva
É nojenta, fede e causa enjoo.
Aniquila a identidade do outro
E, em vez de amor, só gera desgosto.
A cobrança afetiva
Tem que ter suas raízes queimada,
Pois é uma erva daninha
Que destrói o jardim da ilusão.
A cobrança afetiva
É uma lagoa estagnada,
Cujas águas putrificadas
Jamais foram embalada pelo vento.
A cobrança afetiva
Não conhece uma noite enluarada.
Nunca foi amante da madrugada
E, por exigir lucro, acaba perdendo tudo.
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Página publicada em agosto de 2021
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